A doença renal crónica (DRC) representa um desafio significativo em Portugal e no mundo, devido à sua prevalência crescente e ao impacto profundo na qualidade de vida dos seus doentes. Alguns dados apontam para que esta doença possa estar presente em quase 10% da população.
A propósito do Dia Mundial do Rim
Como médico nefrologista, gostaria de aproveitar o contexto do Dia Mundial do Rim, que se celebra hoje, 14 de Março de 2024, para assinalar a importância da deteção precoce desta doença, que muitas vezes permanece silenciosa até atingir graus mais avançados, onde o tratamento é mais complexo e menos eficaz.
De um modo simples, a DRC caracteriza-se pela perda gradual e irreversível da função renal, que é essencial para filtrar resíduos e excesso de líquidos do sangue, mantendo assim o equilíbrio químico dentro do nosso organismo. Esta situação pode progredir para a insuficiência renal, o que pode levar à necessidade de tratamento regular em diálise e a referenciação para transplante.
Relembro os fatores de risco para o desenvolvimento da DRC, que incluem a diabetes, hipertensão, obesidade, histórico familiar de doença renal ou a idade avançada.
Porque devemos estar atento à saúde dos nossos rins
A deteção precoce através da observação e vigilância de exames simples, realizados rotineiramente, como análises ao sangue, para verificar a função renal (creatinina sérica) e análise de urina para detetar proteínas (albuminúria), é fundamental. Estes testes podem conseguir identificar alterações renais antes do aparecimento dos sintomas, permitindo intervenções precoces que podem retardar a progressão da doença. E são exames que são pedidos muitas vezes por rotina, pelo que existem sempre várias oportunidades para se manter algum grau de vigilância.
O futuro irá trazer novidades neste aspeto. Também neste campo a inteligência artificial poderá melhorar significativamente a capacidade de detetar a DRC em fases mais iniciais.
Além da deteção precoce, a prevenção desempenha um papel fundamental. Algumas medidas preventivas incluem o controlo da pressão arterial e dos níveis de açúcar no sangue, manutenção de um peso saudável, a adopção de uma dieta equilibrada, rica em frutas e vegetais e pobre em sal e gorduras saturadas, a prática regular de exercício físico, e a evicção do consumo de tabaco e/ou de álcool, em excesso.
Sono e Rim – uma ligação inesperada?
Curiosamente, amanhã celebra-se o Dia mundial do Sono. A relação entre a qualidade do sono e a saúde do rim é uma área ainda pouco estudada, mas existe evidência cientifica recente sugerindo que os distúrbios do sono, como a apneia obstrutiva do sono, ao contribuir para o aumento da pressão arterial e para maior resistência à insulina, podem indiretamente levar ao desenvolvimento da doença renal crónica.
Além disso, padrões de sono irregulares podem afetar negativamente o ritmo circadiano do corpo, o que pode afetar negativamente a saúde renal, ao influenciar a regulação da pressão arterial e o metabolismo de solutos, contribuindo assim para o desenvolvimento e progressão da doença renal crónica. A sincronização adequada do ritmo biológico é, portanto, importantíssima para a estabilização da homeostase renal e prevenção de doenças renais. Assim, a manutenção de um sono adequado emerge então como uma recomendação adicional para prevenir a DRC.
Concluindo, proteja o seu rim!
Enquanto não temos um modo de reverter o agravamento indelével da função renal, apesar das promessas de algumas terapêuticas experimentais biológicas ou de índole genética, nunca é demais relembrar que deve cuidar e preservar o melhor possível os seus rins.
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